17.3.08

Deslocado

O sítio meu no mundo
é pequeno,
mero aceno
num mar de lenços multicores.

Agonia sem fim
esse vazio em cujo espaço
não caibo,
porque não há como preencher.

Meu lugar no mundo
é menor que eu,
porque sou inteiro o mundo todo
e mais
e, portanto, sou somente nada.

9.3.08

Competitividade Jaqueira

Era uma vila operária habitada por trabalhadores da fábrica de telhas e da de tecidos Maracanã. A lida era dura. Labutavam muito. Iam dormir com as galinhas e com os galos despertavam. Isso em um tempo em que o ditado se dava literalmente, quando, na Usina da Tijuca, ainda se morava em casas com galinheiros e em que os galináceos andavam soltos pelas ruas, ciscando ali e acolá.

Pois bem, o fato é que todos se retiravam por volta da hora do Angelus, para fazer suas preces e, ato contínuo, dormir.

Havia vezes, entretanto, em que a rotina era quebrada. Das casas ouvia-se um som surdo e, em resposta, seus moradores saíam em camisolões alvoroçados. Iam atrás dela, a jaca que caíra, em aberta competição. Até que se ouvia um grito de rasgada euforia. Um deles a havia encontrado. Catava o troféu e em atitude vencedora, o levava secundado por uma procissão. O felizardo adentrava a sua casa, retalhava a jaca e compartia sua vitória com os demais. Todos teriam jaca para o café da manhã seguinte.

7.3.08

Joio e Trigo

Joeirar
O que se vai falar.
Pensar muito
No intuito
De não dizer
Asneira.

Mas, se são
As palavras
Como lavas
De um vulcão ativo,
Como suster o crivo
Se for para dizer:
Mulher,
Sou louco
Por você!

4.3.08

Acordados por Sonhos Somos

No meio da noite
Acordados
Por sonhos
Somos

Poder
O mundo supor
Nossos desejos interditos
Apavora e encanta

A batalha maior
Vencer o outro em nós
E gozar nos campos do real
As fantásticas miragens da fantasia

O pensamento
Nau dessa viagem
Do conhecimento de nós
Dor e delícia nossa
Nos leva

Quanto mais fundo
E longe se vai
Menos dói a dor
E mais deliciosa a delícia
De ser e saber o que se é

 
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