6.6.09

Tempo de Vivente

Agora,
eu quero agora,
pois nada me adianta fiar
pela hora das coisas.

Não sou coisa
que dura infinita no tempo,
mesmo que partida,
estilhaçada,
aparentemente destruída,
mas cujas moléculas persistem,
testemunhas particulares
da existência dela, da coisa.
Ou melhor, de uma coisa,
qualquer coisa,
uma coisa qualquer.

Não sou coisa,
já disse.
Mas também não sou qualquer um,
um qualquer,
em fileiras imensas
de uns quaisquer
igualmente iguais
a outros quaisquer uns,

As coisas são assim,
iguais nos íntimos de si
e eternas porque
para sempre
e desde sempre
já mortas.

Eu não.
Nós não.
Somos seres vivos,
por isso, vez por outra,
temos as carnes inflamadas em fogo,
a alma esvaziada porque exala gases cáusticos,
ao preço de carnes calcinadas,
reais e verdadeiras,
tornando a fuligem cinza
o olhar dos olhos próximos
distante
e gélido.

Com a urgência dos desesperados,
lanço sobre o rubor mínimo e derradeiro
tudo que tenho,
tudo em que em mim posso transmudar
em mim mesmo,
mas melhor,
mais eu,
fiel à minha estranheza original
que se vai construindo
e que jamais se conclui.

Eu quero agora,
porque logo ali,
quase aqui,
um nada além de agora,
tudo se acaba para nós,
seres lindos,
quase divinos,
porém mortais,
parênteses que se abrem
e dividem
o todo nada de antes,
de um lado,
e o todo nada de depois,
do outro.
No meio, nós.
Nós e o pouco que podemos,
mas que pode ser tudo
se o fizermos.

 
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