8.12.12

psicografia de um poema de amor

queria tanto não querer
que de tanto querer não querer
consegui não querer tudo que queria, exceto querer não querer

em 2 meses morreria de fome
em 5 dias morreria de sede
mas, antes, em 1 segundo, morri sem você

22.9.12

O tempo dos odiosos amores

Quero gritar
Bradar que odeio quem eu amo
Mas há homens dormitando por todo o lado

Sonham esses homens que amam quem eles amam
E vão assim sonolentos dos ônibus aos matadouros do tempo
Pedem a eles somente duas coisas: que produzam bens e bem
e que consumam irrefreadamente
pelo tempo todo em que poderiam de fato viver

Mas eu que não dormito
vou sendo esfolado
arrastado para o matadouro do tempo pelos meus odiosos amores
com quem queria estar enlaçado por todo o tempo em que eu pudesse de fato viver
e que queria fosse todo o tempo do mundo

21.5.12

O tempo todo é um tempo nenhum

corremos e queremos desacelerar


atrasados, queremos
correr

queremos todo o tempo
e tempo não temos nenhum

mas esse todo tempo que queremos
o que será?

será tempo de viver mais
o tempo do encontro marcado
às 27h da manhã?

e se antes, ainda pela manhã, tivermos tido
todo o tempo nenhum
morto que nos mata
com suas horas infinitas
de suor e sangue?

o que é esse tempo que queremos?
pra quê?

pra vivermos
precisamos de extensão?

18.4.12

Tá coçando muito

Arranho a folha com a caneta
estou com raiva
um monte de trem deu errado


Tudo bem
o que importa é que os trilhos permanecem
e posso ainda fazer infinitas viagens diferentes pelo mesmo caminho


Ou parte da viagem
se bem que depois da partida toda viagem já é inteira
e dou de ombros se não chego aonde quero


Dou de ombros aliás
se tudo der errado
porque tudo nunca dá errado


Mas ainda que tudo desse errado
bastava-me mover de lugar a palha dos meus desejos
e alguma coisa passaria a ser acerto


Palha, eu disse palha?
Sim, palha
pois o que pesa não é senão que a renitência do ser desejante


Pois que eu tire a bunda
de cima dessa palha
pra ver se paro de reclamar da coceira!

29.3.12

Vencido em Pé


Pus minha cara a tapa
e apanhei muito

Mas antes assim
que, de outro modo,
submeter-me ao consenso

O vermelho
ainda marca
as mãos do poder agressor,
mas minha dor
me é galhardia;

antes ser vencido
que sem razão vencer
ou fazer-me um nada resignado.

Quarta-feira, no Brasil cinzas


Encontrei-a no chão chamuscada.
Perguntei-lhe por sua dona.

A fita,
despedaçando-se,
respondeu-me silêncio.
Da cor do sol de meio-dia,
somente restara uma pálida lembrança.

Por onde andará aquela criança,
menina sapeca de seguidos carnavais,
de olhar sempre fugidio
que, ao deparar com o meu,
ia correndo e rindo, louca, até os confins?
E lá se ia a Pedrita, a Colombina, a Bailarina
e tantas outras mais.

Crescera decerto
como decerto cresci.

Passou o tempo,
perdi Maria Rita
e a mim também perdi.

 
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