6.6.09

Tempo de Vivente

Agora,
eu quero agora,
pois nada me adianta fiar
pela hora das coisas.

Não sou coisa
que dura infinita no tempo,
mesmo que partida,
estilhaçada,
aparentemente destruída,
mas cujas moléculas persistem,
testemunhas particulares
da existência dela, da coisa.
Ou melhor, de uma coisa,
qualquer coisa,
uma coisa qualquer.

Não sou coisa,
já disse.
Mas também não sou qualquer um,
um qualquer,
em fileiras imensas
de uns quaisquer
igualmente iguais
a outros quaisquer uns,

As coisas são assim,
iguais nos íntimos de si
e eternas porque
para sempre
e desde sempre
já mortas.

Eu não.
Nós não.
Somos seres vivos,
por isso, vez por outra,
temos as carnes inflamadas em fogo,
a alma esvaziada porque exala gases cáusticos,
ao preço de carnes calcinadas,
reais e verdadeiras,
tornando a fuligem cinza
o olhar dos olhos próximos
distante
e gélido.

Com a urgência dos desesperados,
lanço sobre o rubor mínimo e derradeiro
tudo que tenho,
tudo em que em mim posso transmudar
em mim mesmo,
mas melhor,
mais eu,
fiel à minha estranheza original
que se vai construindo
e que jamais se conclui.

Eu quero agora,
porque logo ali,
quase aqui,
um nada além de agora,
tudo se acaba para nós,
seres lindos,
quase divinos,
porém mortais,
parênteses que se abrem
e dividem
o todo nada de antes,
de um lado,
e o todo nada de depois,
do outro.
No meio, nós.
Nós e o pouco que podemos,
mas que pode ser tudo
se o fizermos.

1.3.09

Poema de Minuto

E se eu fosse poeta
e tivesse somente um minuto
para o primeiro e último poema?

Antes, poeta não seria,
ou, se fosse, seria um sem poemas,
posto que não os havia escrito nenhum
até o momento dessa ideia doida
de poema de minuto.

No entanto, como sucede a todo poeta que se preza
e que escreve na primeira pessoa,
o poema seria personalíssimo,
sanguíneo,
mucoso e, para dizer o comum,
visceral.

Mas o fato é que este poeta catou o minuto
e não, ao contrário, foi por ele colhido.
De modo que o poema se apresenta esbatido em tons violáceos.
Sem sangue, portanto,
mucos
ou vísceras.

Um poema que,
como os demais poemas,
passou-se em um minuto,
bestamente.

24.1.09

O Corredor

A vida é uma corrida:
partida na chegada,
chegada na partida.

Essa corrida não corro lento
nem vou o mais veloz:
nela não quero chegar antes,
nem após.

Que me doa a dor que tiver que me doer,
que eu suba aos céus de prazer,
mas desta pista somente saio morto de viver.

 
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