30.9.11

Quem sou não sei eu, o que dirá você!

Não sou a imagem que me reflete no seu cérebro,
no meu ou no de quem seja

Sou pedaço eterno de vida limitada no tempo
não dou inteiro no regaço de um colo
sou poço de águas limpidamente turvas
e impossível (e perigosa) é essa vontade de tocar o fundo que não há

Mas há em mim o que se pode ver
até onde se pode ir
posso até matar a sede de alguns poucos desejos

Não queira, entretanto, me definir
o ser eu que sou é indefinível, abstrato, oco, cheio de ar

Sou eu mesmo um espelho refratário às definições
especialmente se se quer conhecer por meio de mim.

23.9.11

O Relojoeiro

Consertam-se relógios com a precisão das horas certas.
Nunca mais faça desastroso o encontro amoroso
nem perca mais aviões, navios e trens.

Tenha o relógio sempre na hora exata da saída
para férias espetaculares,
em momentos antes dos esporros infundados
(ah, os esporros... são sempre infundados).

Que naquela hora você nunca esteja naquele lugar,
no caminho da bala perdida ou a você dirigida.

Livre-se em todas as horas dos chatos,
mas, lembre-se, ser chato não é profissão.

Que naquela hora você esteja sempre lá,
a receber um bom cafuné,
no ombro amigo,
com o amigo nos ombros.

Que a hora de vocês, mulheres, seja sempre a melhor.
Hora de vida.
de luz.
Que sempre saibam que os seus filhos homens são homens
e que o seu homem é igualmente filho de uma mulher.

Que, enfim, todas as horas
sejam momentos de recomeço,
de acertar os ponteiros consigo
para que não se perca a hora de ser como se é.

6.9.11

Hoje saí

Estava em casa distraído e saí
de mim por este mundão afora

Vi muita coisa triste
e alegrias várias também vi

Alegrias que não deram em nada
em chumaços de pouco algodão ancoradas

E tristezas
se reviraram felizes
só porque delas sairam suas presas
pelo condão
que tem
sair de si.

 
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